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OS PROTESTOS, O MEDO E O LOBO DO INVESTIDOR

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Desde o início dos protestos de Junho de 2013 até hoje passamos por uma Copa do Mundo, eleições presidenciais, os atentados de Paris, a cana do FBI na turma da FIFA/CBF e a abertura da embaixada dos EUA em Cuba, mas ao longo de todo esse tempo o nó da política brasileira segue o mesmo.

 

Não importa se Cunha, Renan, Aécio, o falecido Sérgio Guerra, e sabe-se lá quem mais, também tenham sido citados na Lava Jato. Não importa o helicóptero do pó ou a pista na fazenda da família de Aécio, ou ainda saber quem era o dono do avião de Eduardo Campos… A notícia e a culpa devem ser sempre do PT e de Dilma.

O fato é que não foram nem a crise econômica e nem as pedaladas fiscais do governo que derrubaram o espírito empreendedor do capitalismo brasileiro. Foi uma mentalidade de ódio e rancor por perder as eleições e uma certa preguiça birrenta em remover privilégios o que envenenou a livre iniciativa nacional. Agora é um salve-se quem puder e um exemplo esdrúxulo disso é Serra quando nega ser golpista mas anuncia na TV Cultura – a TV bolivariana dos tucanos – que se alguém der o golpe ele pode ajudar no “pós”. Cara de pau tem limite?

A impressão é que não adianta nem fazer o ajuste fiscal que o mercado pediu. Quando gente que não passa fome começou a bater panelas e vestir camisetas da CBF para falar em corrupção entramos no terreno do bizarro e do reality show, e quem perde com isso é o país que joga fora a oportunidade de fazer as reformas necessárias. A culpa é da Dilma? Publiquei um post sobre o assunto (aqui) em Março quando a coisa começou a me parecer sem sentido.

A despolitização da classe média é assustadora e a ruína da representação partidária afundou definitivamente o Congresso no terreno na barganha corrupta entre seus pares. Passado o Mensalão, agora é a Lava Jato que segue mostrando os esquemas de corrupção e financiamento de TODOS os partidos mas a hipocrisia verde e amarela tem o bico grande e só enxerga aquilo que lhe convém para que nada mude. O que precisa mudar definitivamente é o financiamento dos partidos e sobre isso as coisas ainda pioraram.

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UTÓPICOS E LIBERTADORES

12 – 17 de Junho de 2013

Nas primeiras manifestações de junho de 2013 uma das coisas que mais me chamava a atenção era a pauta utópica e complexa que aquela garotada propunha.

Como assim, Passe Livre? Ninguém vai pagar para andar de ônibus ou metrô em São Paulo? Se esse movimento não tem líderes, como se organizou? Naquele momento, mesmo me considerando uma pessoa razoavelmente bem informada, eu não tinha dados suficientes nem mesmo para fazer um julgamento simples sobre aquelas perguntas.

São pautas ocultas na imprensa e, só para ficar em temas de trânsito, é parecido com aquilo que acontece com a redução da velocidade média dos veículos ou sobre a importância das ciclovias nas ruas de São Paulo. Há uma zona cinzenta sobre esses assuntos onde faltam informações e compromissos com a cidade e sobra um jornalismo superficial que atende apenas interesses políticos.

Como todos sabemos, tanto o jornalismo quanto a velha política se interessam mais por herdeiros do que pela juventude e os manifestantes da primeira fase de Junho de 2013 eram jovens, negros, brancos ou mulatos, homens e mulheres, secundaristas e universitários, que estavam completamente fora do radar tanto dos veículos de comunicação quanto dos partidos tradicionais. Um erro fatal.

Não era apenas pelos 20 centavos que tanta gente estava nas ruas. Os manifestantes questionavam o próprio modelo de transporte público e pareciam bastante dispostos a se organizar em busca de alternativas e soluções para os problemas da cidade e isso é muita coisa.

No dia 12 Junho foram 10, 20 ou 30 mil pessoas reunidas em frente ao Teatro Municipal? Nunca saberemos ao certo porque nem a polícia e nem a imprensa tratavam do assunto seriamente.

A prefeitura ouviu o recado das ruas e o prefeito Haddad, que já tinha esse compromisso de campanha, vem operando transformações corajosas e necessárias no trânsito da cidade e sua gestão será avaliada nas eleições do próximo ano.  Será a chance de discutir esses assuntos e minha impressão é que isso será uma espécie de juízo final sobre São Paulo.

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O DESASTRE DA PM E A VIOLÊNCIAblac&white

12/06/2013

Foi no mesmo dia 12 de Junho que a ordem do governador Alckmin para impedir que a manifestação chegasse na Av. Paulista levou a PM de São Paulo a se envolver numa operação desastrada que terminou com jornalistas baleados, policiais flagrados depredando viaturas e muita gente ferida.

O resultado é que uma nova passeata foi chamada para dali a cinco dias e a indignação com a violência policial levou ainda mais gente às ruas. Só que desta vez uma multidão de centenas de milhares também nunca contabilizados passou a criticar o papel das polícias e dos veículos de comunicação.

Chamo essa fase de libertadora e utópica e serviu como um rito de passagem e tomada de consciência política pra muita gente. Mas também foi depois do dia 17 de Junho que as empresas de comunicação se deram conta de que esse gigante estava acordando e se tornou inevitável que entrassem no jogo.

 

A TELEVISÃO ME DEIXOU BURRO, MUITO BURRO DEMAISpipoca

 A manifestação seguinte, na Av Paulista, marcou uma virada na opinião de cronistas como Arnaldo Jabor e Reinaldo Azevedo, que até então tratavam os manifestantes apenas como um grupo de jovens irresponsáveis.

As TVs iniciaram coberturas espetaculosas e esse foi o sinal para que uma audiência despolitizada saísse às ruas protestando agora contra o governo federal. Também foi ali que surgiu uma estranha aliança entre anticapitalistas e fascistas que se encarregaram do show do quebra-quebra diário para o Jornal Nacional. Talvez o estranho ali fosse eu mas resolvi seguir nas ruas gravando.

O prédio da FIESP se pintou de verde e amarelo e se até aquele momento apenas o Mídia Ninja fazia a cobertura dos protestos, a partir dali haveriam helicópteros e links ao vivo dominando o imaginário da classe média.

Esse dia marcou o inicio de um ciclo de violência e nacionalismo que atravessou as eleições e depois seguiu com pedidos de golpe e impeachment. Foi quando chegaram os homens de 40-50 anos, sem uma pauta clara, porém, claramente anti-petistas e dispostos ao confronto com outros manifestantes. Os rancorosos…

 

O MACHO DESPOLITIZADO QUERENDO BRIGA

No dia 20 de Junho registrei em vídeo a ação organizada de um grupo de direita que tinha cerca de 50 participantes e que começou interrompendo o fluxo da passeata logo atrás de um bloco de lutas. Depois cantaram o hino nacional e se levantaram gritando “Sem partido” seguindo na direção daqueles que carregavam bandeiras vermelhas e começaram as agressões. Era uma coreografia e vi aquilo como um sinal para voltar para casa…

A audiência das TVs chegava abraçada a grupos de direita carregados de ódio e violência política. Voltaram os discursos da guerra-fria, inflamaram-se os discursos contra a Copa, pela intervenção militar e tudo isso aumentou o envenenamento das redes sociais com agressões e ofensas contra quem pensa diferente. São espaçosos, perdem eleições e são chatos pra caramba.

O clima ficou insuportável e minha impressão é que o capitalismo brasileiro envenenou seu próprio espírito animal e hoje prefere ir fazer compras em Miami do que criar um projeto para o Brasil. Prefere viver de renda e de seu narcisismo consumista do que pensar num ideal de nação que envolva a todos. Como diz Constantino, o pequeno herdeiro, ele prefere limpar privadas em Miami do que morar no Brasil…fazer o quê?

É uma opção moral bastante duvidosa a dessa nova direita em assumir tamanho cinismo e Milton Friedman deve se revirar no caixão cada vez que alguém dessa turma fala em seu nome.

Concordo com o que li de Luis Nassif e também acho que essa fase dos protestos terminou, até porque o mercado parece ter percebido que quem vai pagar a conta são seus apostadores. O medo é o lobo do investidor e um espírito animal cego de ódio não serve pra nada. O NYTimes e a Globo já avisaram que Dilma deve terminar seu mandato e se alguém quiser a volta dos militares terá que conseguir votos para acabar com a democracia. Hummm…

Resolvi relembrar essa sequência de fatos para marcar o fim deste ciclo de protestos e principalmente para afirmar aquilo que considero o saldo positivo desses dois anos de manifestações. Os estudantes que iniciaram os protestos de Junho tinham razão em sua utopia libertadora e voltaram pra casa há um bom tempo mas antes foram ouvidos pelo poder público e uma reforma importante está sendo implantada no trânsito da cidade de São Paulo. Tomara que sigam se fazendo ouvir e essa turma será decisiva nas próximas eleições…

Já a turma do macho despolitizado de 50 anos que predominou nas últimas manifestações parece que vai seguir engarrafada, tomando rivotril e querendo que os militares resolvam seus problemas.

Você está do lado de quem nessa história?

 

 

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