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Terroristas são os outros

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Terrorismo é um ato político que visa incutir medo e terror para obter efeitos psicológicos sobre o resto da população de um território ou país…”

Já segundo a descrição de boa parte da mídia brasileira, muitas vezes também foram apresentados como terroristas todos aqueles jovens que lutaram contra a DITADURA militar no país mesmo sem pegar em armas. Há uma zona cinzenta na cabeça da classe média até hoje sobre isso…

Pode parecer ridículo mas além da Guerra-Fria, o que mais assustava os graúdos do conservadorismo eram as ideias de estudantes de vinte e poucos anos que gostavam de cultura e política, e que de alguma forma estavam antenados com o que acontecia no Brasil e no Mundo.

É bom lembrar que também eram esses estudantes que protestavam nas ruas defendendo o fim da censura enquanto a maioria dos veículos de comunicação saudava o golpe militar com editoriais defendendo a democracia(?).

Também é importante lembrar que apenas uma minoria dentro da própria esquerda se bandeou para a guerrilha que terminou em algumas trapalhadas, assaltos a bancos (no total menos do que a média mensal que temos hoje) e sequestros políticos. Cometeram assassinatos porém mais morreram do que mataram, fato que não serve de justificativa mas deveria servir para dimensionarmos o que aconteceu naqueles anos de chumbo e que está mal explicado até hoje.

Mesmo com o fim da ditadura e as sucessivas crises do capitalismo não deixa de ser um paradoxo que anos mais tarde, exatamente durante o governo daqueles ex-jovens “terroristas”, o Brasil tenha encontrado o rumo do desenvolvimento econômico com inclusão social. Essa é a esfinge latino-americana que os neoliberais não conseguem decifrar porque raramente incluem em suas equações o avanço social como fundamento econômico e político de um país. Esse capítulo simplesmente não existe nas teorias de Milton Friedman e talvez por isso se limitem a esbravejar paranóias contra um governo popular e democrático, que dispõe de reservas de dólares, zonas de pleno emprego, commodities, petróleo e uma matriz energética limpa…

Como de fato é uma tarefa difícil se opor a tudo isso, restam então os surrados estigmas de terroristas, abortistas, maconheiros, veados, putas ou postes, que sempre fizeram parte dos argumentos conservadores no Brasil. O falso juízo moral e a tradição bacharelesca dão o tom para esse teatro hipócrita e cínico que transforma liberais de meia tigela em reacionários.

Goste-se ou não de sua personalidade basta pensar na figura de José Dirceu, que já foi em cana, solto e julgado mais de uma vez ao longo de sua vida política, enquanto os responsáveis pelos CRIMES da ditadura como sequestro, assassinatos e atos TERRORISTAS nunca foram sequer conhecidos e julgados.

Vladimir Herzog, Rubens Paiva, Alexandre Vannuchi são apenas algumas das vítimas SEM envolvimento direto com a guerrilha que foram assassinadas de forma ainda não esclarecida e (ou) desaparecidos até estes dias…. Quantos mais foram? O que aconteceu com eles? Quem foi o mandante?

Além de dar uma resposta aos familiares da vítima e a sociedade, responder a essas perguntas talvez nos ajude a entender melhor a falência do atual modelo de segurança pública, por exemplo, ou sobre as raízes do protofacismo de que fala Marilena Chauí. Talvez nos ajude também a entender a importância da verdade e de um relativo bom senso no discurso político.

Certamente a democracia brasileira precisa ser aprofundada mas cada vez fica mais claro que não serão os partidos que vão liderar esse processo. As Comissões da Verdade já trouxeram avanços importantes mas se perguntarem minha opinião eu diria que ainda há muito  bicho solto por aí. Somente com o desenlace desse nó é que vai haver algum avanço sobre a história política do país e enquanto isso não acontecer seremos todos reféns das aves agourentas que alimentam a cadeia sem fim da hipocrisia. Uma cadeia na qual Feliciano é apenas a ponta mais bagaceira do preconceito e da mentira.

O bom é que agora vivemos numa democracia e mais uma vez jovens estão nas ruas defendendo direitos universais. E também que a revolução tecnológica libertou corações e mentes das amarras das versões manipuladas e da passividade daqueles que se limitam a comprar informação. Posso estar enganado mas penso que há um mundo novo lá fora…Pega a bike e vai dar uma olhada!

(fotos do protesto Anti-Feliciano em SP)