PunkjazzTV bologs Uma diferença entre solidariedade e estupidez

Uma diferença entre solidariedade e estupidez

0 Comments

Screen shot 2013-01-30 at 18.35.16

Não deveria ser difícil mesmo para uma sociedade em desenvolvimento constatar que histerias individuais e coletivas podem tomar proporções desmedidas depois de uma tragédia em que de certo modo todos somos vítimas, como essa de Santa Maria.

Uma das lições mais difíceis que aprendi de meu pai foi sobre a importância  de ficar calmo, na medida do possível, e agir com rapidez e sabedoria em casos de acidentes. Se por um lado é preciso ajudar os feridos o quanto antes, também é importante afastar os que estão muito nervosos e os aproveitadores que sempre aparecem nessas ocasiões.

Nas redes sociais o caminho muitas vezes parece ser inverso e a estupidez parece se reproduzir quanto mais longe a opinião estiver do fato real. A opinião não precisa nem mesmo ser solidária.

É nesse momento que militantes políticos sem escrúpulos se aproveitam para capitalizar a dor dos outros, como aconteceu com a tentativa de imputar a propriedade da boate Kiss a um deputado do PT, ou a acusação de que a solidariedade da presidente e do prefeito não seriam importantes para mitigar a dor das famílias.

É nesse momento que veículos de comunicação aproveitam a comoção social para aumentar a audiência e passam da informação ao sensacionalismo que vende.

É nesse momento que advogados que vivem de oferecer caminhos pelos labiritos proteladores da justiça fazem pose de paladinos e passam a se apresentar na TV como críticos de um estado que não funciona e de leis que nunca são aplicadas.

É nesse momento que a hipocrisia mata ainda mais.

É nesse momento que todos esquecem que donos de baladas e baladeiros comemoram o sucesso das festas com a superlotação de corpos e a falta generalizada de estrutura. Esquecem que os seguranças estão ali para proteger o patrimônio da casa e raramente para proteger clientes.

Esquecem que clientes são tratados como gado em bretes e filas que podem durar HORAS de espera que dão direito a comandas, seguranças mal encarados, banheiros lotados e empurrões. Esquecem que depois dali todos saem de carro e o drama continua pelas ruas da cidade sob o efeito do álcool.

Enfrentar tragédias coletivas é uma experiência inerente à condição humana porque não temos o controle sobre a natureza e muito menos sobre a vida em sociedade.

A tragédia de Santa Maria foi fruto de uma estupidez que aconteceu numa casa superlotada e há uma infinidade de superlotações diárias e acidentes estúpidos no Brasil. No trânsito, metrô, na periferia das grandes cidades, nas “melhores” boates e baladas…

Ainda que separado por quilômetros de distância tenho a impressão de que o atendimento às vítimas e toda a solidariedade às famílias foi e segue sendo prestado pelo poder público e por toda a sociedade de Santa Maria que deu provas de inestimável e brava reação.

Porém, mais do que uma nova cobertura midiática nos moldes do mensalão e que busque culpados dolosos ou o linchamento dos donos da boate, fica a sensação de que o mais importante neste momento é afastar a estupidez capaz de acender o pavio tanto dentro da próxima boate lotada quanto dentro de um veículo de comunicação, e que tudo isso termine em linchamento.

E combater a estupidez de nossa própria timeline.